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FICHA DE INVENTÁRIO
Museu:
Museu Nacional de Arqueologia
N.º de Inventário:
Au 690
Supercategoria:
Arqueologia
Categoria:
Ourivesaria
Denominação:
Pátera com cena do mito de Perseu
Grupo Cultural:
Romano
Datação:
I d.C. - II d.C. - Época Romana
Matéria:
Prata e ouro
Técnica:
Prata moldada (?), martelada, repuxada, cinzelada, incisa e soldada. Embutido de folha de ouro.
Dimensões (cm):
espessura: 0,3; diâmetro: 13,7;
Descrição:
"Pátera circular, ligeiramente côncava, formada por dois elementos distintos - anverso e reverso -, soldados um ao outro; no reverso, ao centro, vêem-se três círculos concêntricos relevados; pé anular. No anverso da presente pátera, de notável qualidade artística apesar de se tratar, muito provavelmente, de um trabalho provincial, está representado um dos momentos altos - e mais divulgados - do mito de Perseu. Este herói, filho de Zeus e de uma mulher humana, decidiu a dada altura matar Medusa, a única das três terríficas Górgonas que era mortal, a fim de oferecer a respectiva cabeça a Polidectes, tirano da ilha que o acolhera a si e a sua mãe quando erravam, abandonados, ao sabor das vagas marítimas. Na dificílima empresa Perseu foi ajudado por Atena e por Hermes, que vemos figurados na pátera em análise, respectivamente de um e de outro lado do herói. Ao centro, este dirige-se, de espada apontada, para o antro das Górgonas, que se encontram dormentes; no entanto, Perseu vira a cara para trás, evitando a todo o custo os mortíferos e petrificantes olhares das monstruosas irmãs, guiando-se apenas pelo espelhado escudo de Atena. Só duas das Górgonas estão claramente representadas - a terceira vislumbra-se entre elas, tenuemente esquissada a buril -, sendo Medusa, com as características asas na cabeça, a que se situa mais perto do herói, que sobre ela avança a mão esquerda. Notem-se ainda vários pormenores registados nesta pátera: as asas nos pés de Perseu, figurando as sandálias aladas graças às quais ele se elevou para melhor capturar a sua presa; o brilhante escudo de Atena, que, para o observador, reflecte a imagem do próprio herói; e vários elementos simbólicos, alguns facilmente descodificáveis - como a oliveira sobre a qual pousa uma coruja, ambas significativamente ligadas a Atena -, outros de interpretação, por vezes mesmo de identificação, controversa, localizados no exergo desta peça: um stylus, uma tabella e um ramo de oliveira, à esquerda, também possivelmente relacionados com a deusa guerreira e sábia; à direita um ramo floral (de rosas ?); e, ao centro, talvez um capacete e um ceptro (ou, antes, um corno de abundância ?), eventualmente remetendo para Hades, cujo elmo permitiu a Perseu tornar-se obscuro e acabar por conseguir fugir, assim, da perseguição desencadeada pelas duas Górgonas irmãs de Medusa." (Segundo ficha de Catálogo da Exposição "Religiões da Lusitânia" da autoria de José Cardim Ribeiro).
Incorporação:
Compra - A Dr. Francisco Falcão (procº JN 11/L(108))
Proveniência:
Lameira Larga. Sepultura.
Origem / Historial:
*Forma de Protecção: classificação; Nível de Classificação: interesse nacional; Motivo: Necessidade de acautelamento de especiais medidas sobre o património cultural móvel de particular relevância para a Nação, designadamente os bens ou conjuntos de bens sobre os quais devam recair severas restrições de circulação no território nacional e internacional, nos termos da lei nº 107/2001, de 8 de Setembro e da respectiva legislação de desenvolvimento, devido ao facto da sua exemplaridade única, raridade, valor testemunhal de cultura ou civilização, relevância patrimonial e qualidade artística no contexto de uma época e estado de conservação que torne imprescindível a sua permanência em condições ambientais e de segurança específicas e adequadas; Legislação aplicável: Lei nº 107/2001, de 8 de Setembro; Acto Legislativo: Decreto; nº 19/2006; 18/07/2006* A sepultura da Lameira Larga foi "encontrada a 19 de Abril 1907 no lugar da Lameira Larga, no limite da Aldeia do Bispo, (Concelho de Penamacor, distrito de Castelo-Branco) na terra do Sr. João da Costa Martins. O citado senhor, no decurso de trabalhos numa vinha, tropeçou numa caixa grande de chumbo de 1 metro de comprimento e 60 centímetros de largura. Esta caixa entrava-se dentro de um buraco aberto na rocha, esta fossa estava coberta por três barras de ferro e telhas e ladrilhos de barro. Descrição feita a partir de um relato do segundo proprietário da coleção, Dr. Adelino Pinheiro Galhardo, e é uma notícia que tem um inegável interesse de revelar um contexto bem estruturado que se conservou completamente selado desde o momento do enterramento até à sua descoberta no ínicio do século XX, apenas não eslcarecendo se estávamos perante uma sepultura de inumação, se de incineração. Já no que respeita ao facto de se tratar de uma sepultura isolada temos referência a outros vestígios de época romana, identificados na mesma época numa área próxima (Landeiro, 1965, p. 53). A notícia desta descoberta foi publicada por Santos Rocha (1909, p. 44-49), a partir da observação directa, seguramente, dos cinco objectos de prata, publicando as fotografias do espólio do conjunto sepulcral, então cedidas por Francisco Augusto Costa Falcão, na época, já o terceiro proprietário da coleção. A deposição funerária então publicada é constituída pela urna de chumbo, dentro dela encontravam-se os objectos do espólio funerário compostos por cinco recipentes de prata (um deles é esta pátera), três objectos de vidro (...), e dois de cerâmica (...)." (García y Bellido, 1949). A publicação foi desenvolvida por Garcia y Bellido (1949), mas que segue em traços gerais a publicação de Santos Rocha, no que respeita à notícia da descoberta e ao inventário do espólio recolhido. Aquele autor, que não observou directamente o conjunto sepulcral, apresenta no seu estudo uma estampa com desenho simplificado do espólio, realizado a partir das fotografias publicadas por Santos Rocha, detendo-se na denominada pátera "Perseu contra Medusa", a qual descreveu detalhadamente. O inventário do espólio publicado nos dois estudos não coincide exactamente com o que actualmente se conserva no Museu Nacional de Arqueologia, que só em dara muito posterior à sua descoberta foi incorporado nas suas coleções. O Estado Português, por proposta elaborada, em 1972, então do director do Museu D. Fernando de Almeida adquiriu por despacho ministerial no ano seguinte (aos herdeiros de João da Costa Falcão, falecido em 1971, presentados pelo Engº Carlos Mascarenhas Falcão) as peças exumadas da sepultura da Lameira Larga, juntamente com os terrenos onde se situa a villa de Torre de Palma. A "Pátera de Perseu" deu formamente entrada no Museu Nacional de Arqueologia em 23 de Junho de 1980 e as restantes em 1988. Se compararmos o conjunto inicialmente publicado por Santos Rocha com o inventário do que se conserva no Museu Nacional de Arqueologia atribuído à sepultura Lameira Larga verificamos que, do espólio originalmente publicado falta um prato (discus) em prata com a marca "M : M : S". (fig. 3 do estudo de Santos Rocha), não sendo do nosso conhecimento ter sido posteriormente localizada ou republicada. A lucerna de volutas com a representação de Vitória (fig.9 do mesmo artigo), segundo vários autores está deposita no Museu Francisco Tavares Proença Júnior, de Castelo Branco. José António Ferreira de Almeida refere-a no catálogo de Lucernas Romanas em Portugal (1953, p. 92., nº 244, est. XLVI), embora não indicando a proviniência "Lameira Larga" e Manuel Leitão e Salete da Ponte (1988, p. 156, fig. 1), descrevem-na detalhadamente e relacionam-na com a sepultura da Lameira Larga. Não podemos deixar de notar que a lucerna que Santos Rocha publicada se encontra intacta, enquanto aquela que os referidos autores atribuem à Lameira Larga se apresenta fracturada longitudinalmente, havendo uma significativa lacuna na discus. Uma análise mais atenta das váriqas fotografias coloca-nos mesmo a dúvida quanto à lucerna do Museu de Castelo Branco, que embora exiba uma representação de Vitória, pode não ser o mesmo exemplar que Santos Rocha originalmente publica. As palavras de Landeiro na revista "Estudos de Castelo Branco" ainda contribuem para adensar mais as dúvidas ao referis que no "Museu Regional Tavares Proença, de Castelo Branco, encontra-se uma das lucernas aparecidas neste achado arqueológico, e creio que foi para ali enviada pelo Prof. Manuel Martins Leitão". (Landeiro, 1965, p.53). E também à sepultura do "caixão de chumbo" da Lameira Larga atribui Ferreira de Almeida (1953, p.166, nº 106, est. XXXVII) uma lucerna Dressel 5, informação não confirmada por Manuel Leitão e Salete da Ponte (1988, p.158 e fig. 6), que apenas confirmam a proviniência da mesma localidade: "Aldeia do Bispo". Trata-se de um simples erro ou confirmação da informação de que há afinal mais do que uma lucerna? O que não merece qualquer dúvida é que, do espólio sepulcral da Lameira Larga que hoje se conserva no Museu Nacional de Arqueologia, apenas oito peças integram o conjunto inicialmente publicado por Santos Rocha, conforme pode ser atestado pela consulta do inventário do Museu, actualizado no presente ano. O prato "(discus)" em prata com marca "M : M : S" (fig. 3 do estudo de Santos Rocha) e a lucerna com representação de Vitória não integravam o lote então adquirido pelo Estado em 1973. Vários foram os autores que se ocuparam da descrição da pátera de "Perseu contra Medusa". Garcia y Bellido, em 1949, proporcionou-os uma primeira leitura muito completa. Em jeito de homenagem, reproduzimo-la abaixo: "(...) Aunque me falta autopsia de la pieza, no obstante, com las descripciones (no muy apuradas) de quienes la vieron y com la única reproducción en curso, el tema resulta sumamente claro. Se trata de la narración gráfica, muito ceñida a las fuentes literarias, de la aventura en el lejano Occidente de Perseús. En efecto, en el centro de la composición se ve al protagonista principal, a Perseús, espada en mano acercándose al antro en el que duermen las Gorgones, de las que sólo se vem en la reproducción dos. La tercera, dice uno de sus descriptiones, está grabada y detrás, entre ambas. El rápido movimiento de Perseús, hace que su chlamys vuele en agitados pliegues por detrás del héroe, que así aparece virtualmente desnudo. Se toca com un gorro frigio e lleva rezosa melena. En los tobillos las ligeras alas, atibuto del héroe. A espaldas de éste vemos a Athéne vestida com largos peplos, cuyos pliegues inferiores se agitan también como movidos por un fuerte viento. Lleva casco y lanza. Athéne antepone a su cuerpo el escudo, donde, a modo de espejo, se reflejan las durmientes figuras de las Gorgones. El héroe, efectivamente, vuelve la cabeza evitando las posibles miradas petrificantes de los monstruos, para ver sus imágenes en el relejo del escudo, mientras alarga ya la mano com que há de coger las viperinas guedejas de la Gorgó llamada Médousa, única mortal de las tres hermanas. Entre el antro, donde duermen éstas, y Perseús, surge, por detrás, en segundo término, la figura de Hermés, el mensajero divino, auxiliar propicio de Perseús en su arriesgada aventura. Lleva el consabido caduceo y el marsupium, o bolsa así como el sombrero de caminante, el pétasos, provisto de dos alas. Su chlamys tremola por el lado izquierdo. Mira a las Gorgones, cuya cueva está representada, de un modo bastante convencional, por medio de unas volteadas en arco. Los monstruos de las tormentas oceánicas están representados descunos, echados en el suelo, com las cabezas inclinadas sobre los hombros, entregados a un profundo sueño; las guedejas desordenadas, los músculos laxos. La cabeza de Médousa tiene en los temporales, las alas simbólicas. Rodeando el borde exterior de esta composición, se ve un árbol, un olivo, cuyo tronco se alza tras la figura de Athéne, pero cuyas ramas llegan hasta la cabeza de Hermés. En una de estas ramas descansa un mochuelo. Debajo, en el grabado que reproducimos, se perciben una especie de tableta cuadrangular, y junto a ella algo semejante a un stylus; una rama de olivo; un casco (¿) y un cetro (¿), y, finalmente, un ramo de flores, (¿rosas?). El arte de la pátera es poco fino, provincial; tal vez siguiese modelos cortesanos más selectos. Se ha dicho, o sugerido, que pudiera ser trasunto de algún grupo escultório helenístico, o de alguna pintura, lo que nada tendríade extraño. Su fecha fecha probable queda algo indecisa en sí misma, pero en nuestra ayuda viene ele resto del ajuar, en el que, juzgando más por las siluetas de las piezas (...), que por lo0s detalles (muy confusos en las reproducciones poco claras de que tenemos que valernos), parece se trata de un enterramiento del siglo I-II de la Era”. Recentemente no Museu Nacional de Arqueologia a pátera foi "Peça do Mês" de Maio de 2014, tendo sido comentada precisamente por um dos investigadores convidados para participar o catálogo da exposição - Carlos Fabião - que para o efeito preparou para o Museu Nacional de Arqueologia (Lisboa) a respectiva folha de sala, e da qual extraímos um excerto que afina a cronologia e completa a descrição do emérito académico espanhol. Diz-nos Carlos Fabião: "A pátera pertence a um conjunto sepulcral datado dos fins do século I ou inícios do II d.C. A imagem apresenta o grande herói grego Perseu: "o mais valente dos Homens" (Ilíada, Canto XIV, 320). O herói decapitou, com a sua espada de bronze (harpé), a terrível Medusa, a única das três Gorgonas que era mortal. Nos pés apresenta as sandálias aladas, que lhe permitiam voar sobre o Oceano ao encontro da caverna das Gorgonas. Acompanha-o e (guia-o) Hermes, que ergue o manto que o tornava invisível e lhe permitia fugir da fúria das imortais irmãs de Medusa. Para evitar o terrível olhar petrificante de Medusa, Perseu socorre-se de um estratagema. Com o auxílio de Atena, que ergue o seu escudo polido, servindo de espelho, Perseu pôde decapitar Medusa sem a encarar. A pátera apresenta alguns dos elementos da narrativa de Perseu, mostrando o momento em que Medusa já está decapitada, mas a sua cabeça não está ainda nas mãos do herói, que estende o braço na sua direção: ou seja, o acto está em curso, não está ainda concluído. Trata-se, por isso, de uma raríssima representação desta narrativa (à época, era mais popular a imagem de Perseu triunfante, apresentando só, de espada na mão, e pose hierática erguendo a cabeça de Medusa). Neste caso, a representação do acto em curso, com muitos dos seus actores, confere a esta pátera um magnifico poder narrativo. Em época romana, estas narrativas dos feitos dos heróis gregos serviam de "histórias de proveito e exemplo" na educação dos jovens. Será provavelmente esta a razão que levou um habitante da Lusitânia a adquirir e conservar esta pátera de decoração figurativa, que acabou no interior da sua sepultura. Esta magnífica obra, realizada há quase dois mil anos, condensando uma narrativa heróica que lhe é pelo menos mil anos anterior, constitui eloquente exemplo de uma das matrizes culturais do Ocidente, e um inestimável tesouro da Arqueologia Portuguesa".

Título

Local

Data Início

Encerramento

N.º Catálogo

Tesouros da Arqueologia Portuguesa

Museu Nacional de Arqueologia

1980-11-28

Religiões da Lusitania. Loquuntur saxa

Museu Nacional de Arqueologia

2002-06-27

Augusto y Emerita

Mérida

Mirrors

Zurique, Suiça

2019-05-17

2019-09-22

 
     
     
   
     
     
     
 
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