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Moda recortada: silhuetas de Eveline von Maydell
Museu Nacional do Traje e da Moda



Apresentação

 

Moda recortada: silhuetas de Eveline von Maydell

O Museu Nacional do Traje possui uma colecção de silhuetas recortadas da autoria da artista Eveline von Maydell, incluindo um relevante núcleo de retratos de amigos, reconhecidos artistas e políticos europeus e norte-americanos, bem como imagens de moda retiradas das ilustrações da revista Vogue.

As silhuetas criadas por Eveline von Maydell fazem parte de um considerável e importante número de peças transferidas do Museu Nacional dos Coches, que vêm formar parte da colecção inicial do Museu Nacional do Traje quando este é fundado em 1976. Constituem o legado que a artista deixou ao Estado Português e que foi entregue em 1963 ao Museu Nacional dos Coches por sua irmã e testamenteira, Ilse Joana Frank.

O legado é constituído por silhuetas, um álbum de aguarelas inspiradas na ópera Lohengrin e várias composições com esculturas miniaturais (molduras-vitrine e montagens cénicas), bem como material usado para a execução das peças. Trata-se de uma colecção de 308 peças, incluindo 227 silhuetas recortadas.

Eveline Frank nasceu em Teerão (Pérsia) em 19 de Maio de 1890, de pais originários da Estónia, então uma província da Rússia. Ali permaneceu até aos seis meses. Passou a sua infância e adolescência no Báltico, tendo vindo a casar com o Barão Guido von Maydell, da Polónia, país onde viveu até 1918.

Após a I Grande Guerra, refugiou-se primeiro na Alemanha e depois nos EUA, em 1922, tendo-se naturalizado cidadã americana. Como família, tinha apenas a irmã, Ilse Joana Frank e o marido.

Desde cedo foi orientada para os estudos artísticos, estudando desenho e frequentando depois a Escola de Artes de Riga e a Escola Imperial de Belas Artes de São Petersburgo. Dedicou-se à criação de silhuetas recortadas ainda na Europa e continuou sempre a cultivar esta arte, apresentando inúmeras exposições nos EUA e na Europa, incluindo em Portugal em 1953 e 1954. As suas exposições são tão bem sucedidas que é convidada nos EUA a realizar os retratos em silhueta de grandes personalidades das artes e da política norte-americanas.

Tendo dedicado a Portugal uma importante parte da sua obra, morre em Sintra em 24 de Dezembro de 1962.

As exposições que Eveline von Maydell apresentou despertaram o máximo interesse e vieram chamar a atenção para uma modalidade artística que não era muito cultivada e se mantinha quase desconhecida em Portugal.

A “silhueta” é a arte da representação por manchas ou sombras marcando os contornos que mostra as figuras, vulgarmente, de perfil. Apesar de existir desde o século XVIII, o termo “silhueta” foi apenas aplicado à arte do retrato a partir do século XIX.

Julga-se que deve a sua designação ao nome de Étienne Silhouette, Ministro da Fazenda de Luis XV, deposto em 1759 devido às suas medidas económicas e ao combate contra o luxo excessivo da época. Porque ele próprio se teria dedicado a fazer estas sombras ou porque, por sátira, a tudo quanto era económico e simplificado se passou a chamar “à la Silhouette”, o seu nome teria sido dado à representação por manchas, uma simplificação na maneira de retratar as pessoas e as coisas e que teria sido também, à época e em comparação com a pintura, uma maneira económica das pessoas se fazerem retratar. No seu sentido genérico, a silhueta é muito antiga, existindo já nas gravuras rupestres do paleolítico e tendo sido muito notável nas pinturas dos vasos gregos.

Desde que entrou em voga, foi cultivada em França onde a lançou a Madame Pompadour, passou a Espanha, mas teve sobretudo grande divulgação na Alemanha e em Inglaterra, tendo sido por fim introduzida na América do Norte no decorrer do século XVIII.

Arte muito apreciada, serviu de passatempo caseiro a amadores e também a ela se dedicaram grandes artistas. Figuras de extremo relevo da realeza e da arte na Europa fizeram-se retratar e os coleccionadores avolumaram-se. Cita-se Göethe entre os maiores coleccionadores, tendo ele próprio executado silhuetas.

Já na segunda metade do século XX, surgem colecções de silhuetas nos museus como complementares das colecções de traje e moda, embora poucos artistas se dediquem já a esta modalidade. Eveline von Maydell veio, assim, com o seu legado complementar também a colecção de indumentária do Museu Nacional dos Coches, permitindo a documentação dos usos, costumes e trajes, principalmente dos inícios do século XX, na importante colecção que lhe deixou.

Para a execução das miniaturas e montagens cénicas, a artista empregou fios de ouro e prata, missangas, coral, pérolas e pedrarias, seda, papel e cera. Utilizou também uma matéria plástica pintada para ser durável e que, depois de cozida, se tornava inquebrável.

Da colecção do Museu Nacional do Traje, além das miniaturas acima referidas, constam silhuetas feitas na Europa, inclusivamente em Portugal, e silhuetas feitas nos Estados Unidos da América, representando simples retratos ou composições e paisagens onde o gosto da artista pela música e a natureza se revela.

As silhuetas de Eveline von Maydell são recortadas à tesoura em papel negro sobre fundo branco, na generalidade, mas há igualmente silhuetas pintadas a pastel e ainda um pequeno número de silhuetas em vidro eglomisé (aplicação de um desenho e douramento na face detrás do vidro para produzir um acabamento espelhado).

Seguindo a tradição da silhueta que procura a cópia fiel do modelo, as silhuetas da artista apresentam as pessoas ou os ambientes da época pormenorizadamente retratados.

Para fazer as silhuetas, Eveline von Maydell costumava ter várias entrevistas com os seus modelos, em que estes não suspeitavam que estavam a ser estudados. Executava depois no seu estúdio um desenho minucioso das pessoas e, finalmente, quando inspirada, dispunha-se a recortar.

Com a apresentação desta exposição online pretendemos não apenas divulgar a obra de Eveline von Maydell pertencente ao Museu Nacional do Traje, mas também ilustrar a sua importância na relação com a colecção do museu.

A retratística, representando as pessoas isoladas sobre um fundo monocromático, em contexto de paisagem ou ambiente interior, oferece uma perspectiva sobre os hábitos, modos de vida e modos de vestir. Como representações de moda, os retratos são cultura material e cultura visual que documentam a história do traje e da moda. As silhuetas, enquanto retratos de perfil ou sombra, são uma arte que representa pessoas, ilustra aparências e exprime identidades individuais.

Traje, silhuetas e retratística são artes interligadas e transdisciplinares, no sentido em que juntas comunicam e materializam o conhecimento da moda.

Xénia Flores Ribeiro

Este texto não foi escrito ao abrigo do acordo ortográfico.

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