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Acessórios de cabelo - quando o decorativo se junta ao útil...
Museu Nacional do Traje e da Moda



Apresentação

 

A temática dos acessórios de cabelo é indissociável do penteado e do acto de pentear. Na realidade trata-se de alterar o seu aspecto natural recorrendo a acessórios que o permitem manter e realçar e que, para além da sua função utilitária, têm igualmente uma função estética. Ao longo dos séculos, os penteados foram-se modificando, mas o gosto por ondular o cabelo, entrançá-lo, alisá-lo, encaracolá-lo ou até empoá-lo trouxe sempre inerente o uso de uma variedade de acessórios que permitiram dar um toque personalizado a cada um deles.

Na colecção do Museu Nacional do Traje, encontramos múltiplos acessórios de cabelo que ilustram este gosto feminino de decorar os cabelos, fazendo sobressair pequenos objectos que, por vezes, assumiam a aparência de verdadeiras jóias. Podemos referir os travessões, as travessas, os ganchos, as bandoletes, as peinetas e as tiaras. Estas últimas, enquadram-se na tipologia de objecto meramente decorativo - e não utilitário - de ornamento. Todos as restantes peças têm como propósito primeiro a função utilitária: permitem manter o penteado no sítio, prendem mechas de cabelo ou simplesmente impedem-no de ocultar o rosto.

Os primeiros acessórios de cabelo foram encontrados na antiga Assíria e no Egipto, e eram constituídos por alfinetes de cabelo esculpidos em osso, marfim, madeira ou metal, com dois dentes, cujo objectivo era o de prender os cabelos e assim permitir manter os penteados. Estes objectos seriam usados por mulheres de classes mais elevadas e com mais recursos que podiam exibir nos seus penteados elementos decorativos de grande requinte.

Na Grécia Antiga, era habitual o uso de uma fita de cabelo ou de tiaras nos cabelos femininos. As coroas de louros, ganharam também notoriedade quando foram usadas pelos vencedores dos Jogos Olímpicos, sendo usadas exclusivamente por homens. Gregos e romanos ornamentavam os cabelos com coroas de ramos entrelaçadas, habitualmente usadas em ocasiões especiais, que permitiam puxar o cabelo para trás, fazendo realçar o rosto.

Ao longo dos séculos seguintes, os acessórios de cabelo foram-se ajustando a cada momento e à necessidade de pentear e embelezar o cabelo. Foram surgindo acessórios mais elaborados e com funções práticas mais concretas. Muitos dos acessórios perduraram no tempo pela sua função útil e foram sendo somente transformados do ponto de vista estético. Executados nos mais diversos materiais, eram esculpidos, ornamentados ou decorados com pedrarias, vidros ou metais nobres que lhe conferiam o astuto de quase jóia.

O século XVIII foi marcado pelo uso das perucas, do cabelo empoado e penteados volumosos e extravagantes, com recurso a acessórios de cabelo como travessas, fitas, plumas e flores. Na colecção do Museu, datam de 1750, os exemplares mais antigos de travessas para ornamentar o cabelo. Trata-se de um conjunto de três travessas (uma de maior dimensão e duas mais pequenas) de tartaruga e prata com incrustação de topázios. A travessa de maior dimensão era usada atrás, sobre o apanhado de cabelo e as duas menores seriam usadas nas laterais da cabeça, resultando num conjunto equilibrado e esteticamente elegante.

No período Império, o gosto pelo uso de fitas, de travessas, diademas e de tiaras marcam os penteados apanhados atrás, ao gosto neo-clássico, com pequenos caracóis na frente. As tiaras do acervo do Museu que tinham como função decorar os penteados ilustram esse gosto. Porém, é possível encontrar dois exemplares em que a função decorativa está associada à função utilitária uma vez que o conjunto de tiaras possui dentes, como um pente, que possibilitava o seu uso na elaboração de penteados.

Neste período Império, assim como no período Romântico, as travessas continuaram a ser os acessórios preferidos para ornamentar os penteados. Surgiram as travessas articuladas que possuíam uma peça (pequena dobradiça) que unia o pente à parte decorativa e que permitia posicionar a travessa quer na parte da frente, quer na parte de trás do penteado. Qualquer que fosse a sua posição, a parte decorativa era rodada de modo a ser exibida. Existem exemplares articulados destes períodos na colecção que ilustram esta nova possibilidade e versatilidade que permitia que fosse ajustada a várias posições, incluindo a de tiara.

Ainda no período Romântico, as travessas eram decoradas com strasses, vidros ou pérolas, podendo ter ainda pequenos pingentes, correntes ou borlas laterais que permitiam dar algum movimento aos penteados quando estes se moviam. Este tipo de peças com pingentes, do qual temos alguns exemplares no acervo, ilustram o gosto pelo estilo mourisco ou argelino resultante das guerras franco-argelinas no início da década de 1840 e que foram uma influência na criação de jóias e acessórios de cabelo, sobretudo em França.

Além das travessas, os ganchos eram também um dos acessórios mais usados nos penteados da época Romântica. Estes ganchos eram simples, com dois dentes, sendo habitualmente usados aos pares, mas também em conjuntos de três peças e serviam para prender o cabelo e formar os apanhados típicos da época. Eram executados em tartaruga ou osso, mas podiam também ser de chifre, um material muito comum no século XIX que, não sendo tão caro quanto a tartaruga, podia ser tingido com corantes químicos para adquirir o padrão desta. Estes ganchos perduraram no tempo e foram usados durante as décadas seguintes até chegarem ao século XX, como são disso exemplo os vários ganchos que o Museu possui.

No final do século XIX e início do século XX, no período Belle Époque, o uso de vários acessórios de cabelo, sobretudo ganchos e travessas foi generalizado. O cabelo comprido apanhado no alto da cabeça em grandes totós, com volume lateral, necessitava de vários acessórios de cabelo para manter o penteado estruturado e torná-lo adequado ao uso do chapéu. Estes acessórios continuaram a ser executados em tartaruga, marfim, madeira ou osso, decorados na parte superior com aplicações de metal ou madrepérola e incrustação de strasses ou vidros facetados. Há ainda exemplares cuja decoração apresenta um trabalho recortado e vazado executado no mesmo material da base dos dentes, como por exemplo tartaruga.

Na viragem do século, em 1901, Godward Ernest, engenheiro inglês criou aquela que viria a ser uma das grandes invenções em termos de acessórios de cabelo: o gancho em espiral. Este permitia às mulheres com cabelos lisos poderem manter os penteados de uma forma mais eficaz sem ter constantemente os ganchos a deslizar. Depois desta invenção, foi possível a criação de outro tipo de ganchos cujos dentes podiam ser moldados para criar mais atrito com o cabelo liso.

Durante todo o início do século XX ganchos e travessas continuaram a ser os acessórios de cabelo mais populares. A decoração era em muito semelhante à das décadas anteriores, sendo as formas florais ou vegetalistas muito apreciadas. Algumas peças não possuíam mesmo qualquer tipo de decoração, mantendo-se simples e singelas, cumprindo apenas a sua função utilitária.

A invenção da baquelite, em 1909, por Leo Baekeland, veio novamente revolucionar o quotidiano, sendo considerado um dos primeiros materiais da família dos plásticos. Usada em inúmeros produtos, esta resina sintética podia ser moldada e tinha como características principais, a sua dureza e durabilidade. Datam de 1910-15 algumas travessas de baquelite da colecção, de cor creme ou imitando tartaruga, uma vez que podia ser tingida de múltiplas cores. Algumas travessas eram decoradas com incrustação de strasses ou vidros facetados.

Em 1920, nos Anos Loucos, os penteados sofreram uma grande mudança que acompanhou as alterações sociais e culturais da época. A mulher cortou o cabelo curto, à la garçonne e passou a usar franja. A imagem do penteado largamente popularizada pela actriz Louise Brooks tornou-se um ícone a seguir. Nesta década, eram usados como acessório de cabelo fitas na testa que podiam ser de tecido ou veludo, decoradas com lantejoulas ou até plumas laterais, usadas sobretudo à noite e em ambiente festivo onde o Charleston imperava.

Os cabelos dos anos 20 também eram brilhantes e elegantes, moldados com ondulações que necessitavam de pequenos ganchos de metal para se manterem. Eram usados durante a noite com o cabelo molhado, para que, no dia seguinte, o efeito ondulado fosse mais notório. Exemplo destes ganchos são as peças que o Museu reuniu e que permitem observar inclusive as respectivas embalagens onde eram comercializados.

Datam das décadas de 1920 e 1930, as peinetas do acervo, que se tornaram muito populares. De inspiração espanhola, estas peças eram executadas em tartaruga, baquelite ou plástico sugerindo tartaruga, tornando-se especiais pelo seu tamanho e por toda a decoração vazada que exibiam. Estas peças eram colocadas no penteados, na parte de trás da cabeça por forma a que fossem admiradas por quem estivesse de frente.

Nos anos 30, os penteados feminizaram-se e começaram a ganhar mais ondas e caracóis. Os pequenos ganchos de metal, pelo seu tamanho reduzido, passaram a ser muito utilizados em determinado tipo de penteados, tornando-se quase invisíveis. Na década seguinte, em 1940, o cabelo foi repuxado para trás, libertando a testa e usado mais comprido que nos anos anteriores. As travessas, ganchos e travessões ajudaram a obter este tipo de penteados que muitas vezes tinha como auxiliar o uso de brilhantina. O lenço começou a ser igualmente adoptado como acessório de cabelo, por uma questão prática, passando até a ser um símbolo feminino das mulheres trabalhadoras dos anos 40.

Com a chegada dos anos 50, Marilyn Monroe e Grace Kelly tornaram-se referências a seguir e os seus penteados, com caracóis largos e leves ondulações, foram amplamente imitados, inclusive na cor. As molas de cabelo mais finas, de metal, auxiliavam na elaboração das “bananas”, um tipo de penteado muito em voga e que adornava a frente dos cabelos. As raparigas começaram também a adoptar o rabo-de-cavalo, preso com travessões curvos de mola ou com elásticos, aos quais eram atados lenços para os ocultar. Surgiu igualmente a bandolete, que passou a ser um dos acessórios favoritos para usar com cabelos compridos, mas soltos.

Chegados os ano 60, os jovens usavam o cabelo comprido, com tranças ou apanhado em rabos-de-cavalo, sendo o uso de travessões, ganchos e bandoletes amplamente generalizado. O movimento hippie trouxe para o cabelo o uso de fitas de tecido ou couro, colocadas na testa, decoradas com flores e penas, assim como novamente o uso de lenços atados de formas variadas. Contudo, há uma geração que continuou a usar travessas para penteados mais formais, decoradas com pérolas ou vidros facetados, assim como pequenos ganchos que eram auxiliares preciosos na composição dos apanhados, alguns volumosos, característicos de 1960.

Na década de 1970, o movimento hippie continuou a ditar o visual “natural” onde a elegância não era uma prioridade. Surgiram variados movimentos na moda, associados à música, que fizeram nascer uma enorme variedade de penteados, com cortes escadeados, ripados e escovados para trás. Os lenços eram o acessório de eleição, usado muitas vezes na testa, assim como as fitas de tecido ou couro já usadas na década anterior. Os ganchos de mola continuaram a ter um papel preponderante sendo decorados das mais variadas formas.

Os anos 80 são emblemáticos pelo uso de diferentes estilos de penteados, acompanhando novamente as variações da moda, com recurso a diversos acessórios de cabelo. O volume dos penteados atinge grandes proporções e a série “Dinastia” a isso não é alheia. O gosto pelos rabos-de-cavalo laterais fez furor e os elásticos passaram a ser revestidos de tecido franzido, ou com flores ou borboletas aplicados. As faixas elásticas e coloridas para o cabelo foram uma novidade e permitiram libertar o rosto, mas não destronaram as bandoletes.

A volumosa colecção de bandoletes e travessões dos anos 1980-90 do acervo permitem justamente perceber que este tipo de acessórios era essencial e usado diariamente. De plástico, metal, forradas de tecido ou veludo, a bandolete apesar de usada em décadas anteriores, afirmou-se com especial destaque. Já os travessões, surgiram com imagem renovada, com uma haste que os cruza e segura o cabelo enquanto os prende. Há exemplares em madeira ou pele, mas o plástico impera, muitas vezes imitando tartaruga.

Na actualidade, a bandolete regressou à ribalta, evocando a infância ou o sonho da tiara. Modelos em pele, metal ou tecido, almofadadas e profusamente decoradas com pedrarias, aplicações florais ou strasses são muito usadas e amplamente difundidas nas redes sociais. Também o uso dos ganchos se mantém actual e carrega consigo essa vertente útil e decorativa. Alguns dos ganchos datados da primeira década de 2000 da colecção têm patente o gosto pelos motivos animalistas - libelinhas, borboletas ou papagaios - numa reinterpretação mais moderna e criativa.

Na verdade, todos os acessórios de cabelo modificaram-se esteticamente ao longo da história, acompanhando a evolução dos materiais, dos gostos e dos penteados estando sempre presentes no quotidiano feminino, mas a sua função útil permaneceu sempre a mesma. Os acessórios fizeram - e farão - parte integrante de momentos ou ocasiões especiais, mas também marcaram o estilo de vida diário e ajudaram a marcar uma identidade. No fundo, quando o decorativo se junta ao útil permitem à mulher um toque de feminilidade e elegância...

Elsa Mangas Ferraz

Este texto não foi escrito ao abrigo do acordo ortográfico.

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