As “minas novas” nas colecções de acessórios e joalharia do Museu Nacional do Traje
Em 2017, o Museu Nacional do Traje aceitou o convite do Gabinete de Estudos Olisiponenses para participar no projecto “Testemunhos da Escravatura. Memória Africana”, integrado na Capital Ibero-Americana de Cultura Lisboa 2017.
Deste desafio resultou a selecção e exposição de um conjunto de acessórios de traje e de joalharia setecentista. Estas peças decoradas com “minas novas”, de que se destacam fivelas e botões, testemunham materialmente a utilização do trabalho escravo na exploração mineira.
A designação “mina nova” é o termo vulgar para identificar uma pedra incolor amplamente utilizada na joalharia portuguesa da segunda metade do século XVIII e primeiro quartel do século XIX.
Esta pedra é originária do Brasil, provavelmente da localidade de Minas Novas no estado de Minas Gerais. De natureza mineralógica diversa, as gemas mais comumente identificadas como “minas novas” são o quartzo, o topázio, o berilo (água-marinha de tom pálido ou goshenite, incolor) e, por extensão, o vidro.
A participação de escravos africanos favoreceu a mineração e extracção de gemas em Minas Gerais no século XVIII e ainda hoje é discutido o papel que estes desempenharam com a sua experiência em actividades de mineração, juntamente com os técnicos mineradores europeus. Na realidade, os africanos vindos da Costa da Mina (Golfo da Guiné, actuais Gana, Togo, Benim e Nigéria) representavam, até ao início do século XIX, cerca de metade da mão-de-obra escrava presente nas minas.
A joalharia portuguesa beneficiou da abundância de pedras oriundas do Brasil que substituíam o diamante. O facto de serem menos dispendiosas, mais abundantes e de maiores dimensões constituiu motivação para a sua utilização e o próprio desenho das jóias acompanhou um maior uso das pedrarias encastoadas em metal, sobretudo prata.
No final do século XVIII, eram apreciadas jóias e acessórios mais uniformes na decoração, realçando-se o brilho e a cor de uma única gema, sendo disso exemplo as peças da colecção do Museu Nacional do Traje.
Xénia Flores Ribeiro
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